Afastado o diretor do presídio onde aconteceu o massacre em Manaus

CVALHO
José Carvalho da Silva  ( foto internet), foi afastado do cargo hoje 

Manaus, AM – – O diretor interino do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), José Carvalho da Silva, foi afastado do cargo nesta terça-feira (10) por suspeita de receber propina de uma facção. Ele estava no posto desde 28 de novembro de 2016. A decisão foi confirmada pelo secretário de Segurança Pública do Amazonas, Sérgio Fontes.

Presos afirmam em cartas que o diretor interino ganhou dinheiro para permitir a entrada de armas, drogas e celulares na unidade prisional. No início do ano, 56 detentos foram mortos em um massacre e 112 fugiram do Compaj. Logo após a rebelião, a polícia apreendeu pelo menos quatro pistolas e uma espingarda calibre 12 no local. Ao longo da semana, foram encontrados entorpecentes, um rifle calibre 32, dezenas de celulares, 42 armas brancas e até um roteador de internet.

“Não estou acompanhando isso, não sei o destino e o teor da carta. Quando chegaram as cartas, ele [José Carvalho da Silva] foi afastado. Ele se encontra afastado para responder a procedimentos, temos que tomar certo cuidado nesse momento de crise. Se houver indício [de irregularidades], mínimo, o cargo é de confiança, e ele pode ser afastado a qualquer hora”, diz o secretário Sérgio Fontes.

Denúncias de presos

Presídio foi palco de rebelião mais violenta do Amazonas, onde ocorreu a rebelião com fugas e mortes, em Manaus

Em 10 de dezembro, uma carta assinada por dois presos denunciou um esquema de corrupção na prisão. Um deles acabou morto na chacina do dia 1º de janeiro. Segundo o texto, a facção Família do Norte (FDN) pagou propina para a diretoria facilitar a entrada de armas, drogas e celulares no local.

A carta foi escrita à mão e enviada à Defensoria Pública do Estado (DPE-AM), que informou que a denúncia deverá ser investigada pelo Ministério Público.

A vítima da chacina contou no texto que tinha medo de morrer e pedia para continuar na ala chamada de guarda-volumes do Compaj. Ele cumpria pena separado dos demais presos, por ter recebido ameaças de morte. Segundo um documento de 2015, o detento era ameaçado por ter decidido deixar a FDN.

Na carta escrita em dezembro do ano passado, ele diz sofrer “tortura psicológica” da subdiretoria do Compaj e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que estariam ameaçando transferir os detentos do local considerado seguro por eles. A subdiretoria é subordinada à Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap-AM).

“Os mesmos estão diariamente fazendo ameaças da questão de nós (sic) tirar de onde estamos hoje, guarda-volume, seguro 2. (…) Não temos convívio em nenhum lugar, só temos convívio onde estamos, porque por todos os cantos nós já passamos e saímos entre a vida e a morte”, relata o preso, em trecho da carta.

Segundo ele, as ameaças da diretoria do Compaj e do GSI ocorriam “sem motivo”. “Só pelo fato de nós internos sabermos que eles são corrupto (sic) e recebem dinheiro da facção FDN, facilitando a entrada de armas, drogas, celulares, facilitando a última fuga que teve no Compaj, onde fugirão (sic) 114 internos na semana passada [início de dezembro] e nada foi feito”, diz.

Detento denunciou corrupção de diretores do Compaj (Foto: Reprodução)

A carta-denuncia dos presos, aponta corrupção de diretores do Compaj

A vítima da chacina no Compaj foi condenada a 5 anos e 10 dias pelo crime de furto qualificado, por ter roubado duas garrafas de uísque, 30 kg de guaraná e um iPad de uma casa, em julho de 2014.

Em outra carta, que também está no processo judicial dele, o preso pede a liberdade condicional, pois já teria tempo para progredir para o regime semiaberto desde março do ano passado.

No texto, o detento conta que está “passando por toda essa situação de risco de morte” e que não era mais para estar preso, pois “está tudo pago para lei”. “Minha família está precisando de mim, eu sou o sustento da casa e estou precisando ajudalos (sic)”, completa.

Respostas das autoridades

Procurada  para falar sobre a denúncia, a Seap afirmou apenas que uma sindicância sobre a atuação de José Carvalho da Silva foi aberta na última quinta-feira (5) e que ele já foi afastado do cargo.

Sobre o pedido do preso de permanecer em ala separada, a Defensoria Pública do Estado do Amazonas se mostrou a favor, de acordo com o processo. O requerimento para permanência do preso na área de guarda-volumes da unidade foi enviado ao juiz da Vara de Execução Penal da Comarca de Manaus, Luiz Carlos Valois, no dia 14 de dezembro. Não consta no processo qual foi o posicionamento do magistrado.

O defensor-geral Rafael Vinheiro afirmou que o pedido do preso de ser mantido no local “seguro” foi atendido. “Não tinha muito o que fazer, a não ser deixar essa pessoa no ‘seguro’, protegida, em tese, contra esse tipo de ameaça. É claro, se a Defensoria tivesse alguma informação mais contundente de que poderia ter a rebelião, teríamos, com toda certeza, tomado outras providências.”

O Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM) foi procurado para comentar o pedido de liberdade condicional do detento, mas, por estar em recesso, não foi possível obter informações.

Amazonianarde=G1

 

 

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