‘Bate forte o tambor…’ Hit Tic Tic Tac faz 20 anos e ainda rende fama e lucro

Zezinho Correa e o seu Tic-Tac, no auge da fama

 

Zezinho Correa e o seu Tic-Tac, no auge da fama
Zezinho Correa e o seu Tic-Tac, no pico  da fama

Amazonas – Era uma noite de domingo de 1992 quando Zezinho Corrêa ouviu pela primeira vez os versos de uma canção que levaria a Amazônia para o mundo. Um parintinense até então desconhecido apareceu durante uma reportagem na televisão.

Com um remo nas mãos enquanto torrava farinha d’água, o compositor Braulino Lima surgiu cantarolando o refrão de “Tic tic tac”. Mais tarde, em 1996, a música foi gravada pelo grupo Carrapicho e estourou nas paradas europeias e do Brasil. Após 20 anos do ‘boom’ mundial, Zezinho conta que ainda colhe os frutos da época de ouro.

Faça o teste em um grupo de amigos. Diga “Bate forte o tambor…” e as chances de ouvir de volta um “eu quero é tic tic tic tic tac” são enormes. Em quase 100% dos casos, a resposta virá acompanhada da coreografia emblemática do hit. Se a convesa se estender e a ocasião permitir, a probabilidade de todos aderirem ao “dois pra lá e dois pra cá” ao longo do papo é garantida.

Com uma letra simples, que exalta as belezas do Rio Amazonas, a música caiu fácil no gosto gringo e alcançou o primeiro lugar da parada fracesa por três vezes seguidas.

O “hit-chiclete” rendeu ao grupo discos de platina, ouro e diamante, além de 15 milhões de discos vendidos no Brasil e no exterior. Mas não foi tudo tão fácil assim. Além do talento incontestável, o grupo precisou unir sinais do acaso e contar com uma boa dose de sorte para o “povão de fora vir para brincar” ao som do Carrapicho.

 

O cantor do \grupo Carrapicho, curtia o sucesso e fama
O cantor do \grupo Carrapicho, curtia o sucesso e fama

A ‘luz’
Como água no deserto, a música “Tic tic tac” surgiu para o Carrapicho. Uma “luz” que veio, mais precisamente, da TV da casa de Zezinho. “A música me conquistou desde o primeiro momento que eu ouvi. O Fantástico fazia uma matéria, todos os anos, sobre o Festival de Parintins e, em uma dessas matérias, eu vi Braulino cantando enquanto fazia farinha. Fiquei fascinado. Meu Deus, que música era aquela! Coloquei na cabeça que um dia iria gravá-la”, disse.

 

Dito e feito. Dois anos mais tarde, em 1994, a canção foi gravada e inserida no repertório do grupo. Fazia pouco tempo que o Carrapicho deixara o forró de lado para abraçar as toadas e as produções locais como carros-chefe da banda. A nova pegada regional sacudiu o público e projetou os músicos para o Norte. Mas o verdadeiro “terremoto” ocorreu mesmo em 1996.

Durante as gravações do filme ‘Le Jaguar’, no interior do Amazonas, o ator e cantor francês Patrick Bruel ouviu o ‘Tic tic tac’ e decidiu levar a batida daqueles tambores para o país de origem. A partir da descoberta, Zezinho e Patrick viraram amigos. “A gente sentava na sarjeta aqui no Campos Elíseos e ficava horas cantando, compondo. Só quando cheguei na França eu fui saber quem ele realmente era. Tomei um susto”, contou.

E não era para menos. À época, Patrick Bruel estava para a França, como Roberto Carlos está para o Brasil. Lançados por um ídolo europeu, não tardou para ‘Tic tic tac’ alcançar o status de hit do verão. O sucesso do álbum “Festa de Boi Bumbá”, gravado na França, estendeu-se para a Alemanha, Bélgica, Suíça, Polônia, Israel e até ao Líbano. Resultado? Versões em diversos idiomas, fama e uma boa soma de histórias curiosas.

 

O Carrapicho e Zezinho Correa, fizeram sucesso na sucesso na europa
O Carrapicho e Zezinho Correa, fizeram sucesso na sucesso na europa

Bonjour, France!
A estreia em solo europeu ocorreu no programa de auditório Taratata, em junho de 1996. De cabelos longos e roupas brancas lembrando as vestes de um pescador, Zezinho Corrêa surgiu iluminado por uma luz branca, entre os quatro dançarinos. Após uma reverência aos céus, o grito icônico “bate forte o tambor, galera!” anunciou a música.

 

Na ocasião, o programa homenageou o cantor Chico Buarque, que acompanhou Zezinho e Patrick em um dos episódios mais marcantes do início da carreira internacional do amazonense. Após aceitar a França como novo lar, o músico passou a frequentar uma boate latina de Paris. Foi ali que Zezinho percebeu ter deixado o anonimato no aeroporto.

“Eu estava sentado em uma mesa com os dois quando começou a tocar ‘Tic Tic Tac’. Todas as pessoas levantaram e começaram a dançar. Eu levantei e, quando eles viram que era eu, me pegaram no colo e me colocaram em cima do balcão de bebidas. Eu fiquei dançando lá em cima e as pessoas acompanhando lá em baixo, a boate completamente lotada. Esse é um episódio que eu não esqueço nunca”, narrou.

Fama

A falta de familiaridade com o francês não foi empecilho para a aproximação com os fãs. Em programas de rádio e televisão, um intérprete auxiliava Zezinho com o idioma. Já nos palcos, ele foi obrigado a se virar. “Meu produtor não queria interferências no início do show, então eu decorei uma frase que eu sei até hoje que dizia ‘Boa noite, essa dança vem da Amazônia. O nome dela é boi bumbá. Vocês podem fazer com nós fazemos? Façam como nós'”, conta.As pessoas têm um carinho grande por mim. Eu me considerava um rei [na França]”

Zezinho

O cantor afirma que se considerava " um rei na França"
O cantor afirma que se considerava ” um rei na França”

Limitado na fala, Zezinho usava todo tipo de linguagem para se comunicar com o público. Segundo ele, os braços abertos era o convite para a aproximação dos fãs. “As pessoas têm um carinho grande por mim. Eu me considerava um rei ali. Eu passava e as pessoas me cumprimentavam,  me abraçavam, me colocavam no colo, em cima de pedestal, faziam festa. O que aconteceu em 1996 foi algo muito grande”, recordou.

 

O Carrapicho só ganhou notoriedade em terreno brasileiro após diversas aparições na mídia estrangeira.

 

A partir de então, eles voltaram para o Brasil e marcaram presença nos maiores programas de auditório da época, incluindo os apresentados por Faustão, Jô Soares e Hebe Camargo. O grupo ainda estampou capas de jornais e revistas de prestígio.

Assédio

A conhecida frase “O melhor do Brasil são os brasileiros”, dá conta de expressar muito bem como foi a recepção em terras tupiniquins. O furor causado com o retorno ao país ainda não havia sido experiimentado pelo grupo. “Eu sou brasileiro, então minha cultura também é. Aqui a gente não pede licença, a gente se joga mesmo. Esse assédio era um sinal de que nós estávamos fazendo a coisa certa”, comentou.

Se antes o grupo estava acostumado a andar tranquilamente pelas ruas, agora os passeios só tinham condições de serem feitos ao lado de seguranças. Apesar do esforço, subidas aos palcos eram comuns durante as apresentações no país. Em um outro episódio, uma fã do Pará conseguiu burlar o esquema de segurança para se aproximar dos ídolos.

“Ocorreu em um show que nós fizemos em Belém. Eu entrei no camarim e corri pro banheiro. Quando entrei tinha uma fã escondida lá dentro. Ela disse ‘xiiiiu, não conta nada’. Ela disse que só queria me dar um abraço e que precisou se esconder para não ser tirada pelos seguranças. Peguei ela, abracei, fiz ela sentar e tivemos uma boa conversa. Tomei um susto enorme, mas foi engraçado demais”, relembrou.

O canor, mora em Manaus, ainda trabalha com o canto e desenvolve açoes cultuaris no Sesc
O canor, mora em Manaus, ainda trabalha com o canto e desenvolve açoes cultuaris no Sesc

Anos dourados

Os “anos dourados” do grupo seguiram até 1998. Nesse tempo, os legados mais divertidos do “tic tic tac” foram as versões criadas por diferentes artistas, segundo Zezinho. Uma das versões mais extravagantes da toada foi interpretada pelo cantor russo Murat Nasyrov, que misturou em um único videoclipe ritmo caliente, dançarinas com chocalhos caribenhos e uma estética que lembrava a família Addams.

Após 20 anos do estouro internacional, Zezinho leva uma vida bem diferente daquela dos anos 1990. O músico mora em Manaus sem contabilizar excessos ou luxos, em uma casa que herdou dos pais na Zona Centro-Oeste. Questionado sobre o por quê de ter voltado a morar na capital, ele foi categórico.

“Eu gosto do cotidiano. Gosto de entrar numa fila de banco, de fazer supermercado. Eu tive um período da vida em que as pessoas faziam tudo para mim e eu não gostava daquilo. (…) A minha opção de estar em Manaus é uma opção em razão da minha felicidade. Eu sou feliz aqui. Então, quando me perguntam porque eu não fiquei lá, eu digo que optei por ser feliz”, afirmou. Zezinho ainda segue carreira musical e trabalha em ações culturais para o Sesc.

Uma vez por ano ele faz curtas temporadas de shows em cidades francesas. Mesmo mais afastado dos holofotes internacionais, ele diz que o reconhecimento do público ainda é grande. “Por onde eu passo as pessoas falam comigo. É algo que eu construí e que me deixa muito feliz. Essa foi a minha maior conquista dessa experiência”, completou.

 

Amazonianarede- Jamile Alves/ G1 AM

 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.