INPA trabalha na readaptação de 12 peixes-boi à natureza em lago de Manacapuru

“Como os animais foram criados em tanques de fibras e alimentados artificialmente, este estágio de semicativeiro permitirá que os animais se familiarizem com o ambiente natural e busquem seu próprio alimento”, explica a pesquisadora Vera Silva, coordenadora do Programa de Reintrodução de Peixes-bois da Amazônia

Manacapuru, AM – Para permitir a readaptação gradual à natureza e garantir que no futuro possam ser devolvidos novamente aos rios da Amazônia, quatro peixes-bois machos (de um total de 12) foram levados, na madrugada desta terça-feira (15), dos tanques do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia  (Inpa/MCTIC) para um lago, próximo a Manacapuru (a 68 quilômetros de Manaus). A translocação dos animais prossegue nesta quarta-feira (16), quando serão levadas quatro fêmeas, e na quinta-feira (17), mais um macho e três fêmeas.

Com idades que variam de três a sete anos e pesando cerca de 150 quilos cada, os quatro peixes-bois (Rudá, Itacoati, Orebe e Gurupá) foram embarcados num caminhão-baú devidamente adaptados com colchões de espuma, previamente molhados, onde foram acomodados para seguirem viagem até um lago na Fazenda Seringal, 25 de Dezembro, que funciona como semicativeiro.

A operação mobilizou dez colaboradores, entre pesquisadores, veterinário, biólogos, tratadores e técnicos do Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA/Inpa), que se revezaram por duas horas de viagempara avaliar o comportamento e manter a hidratação dos animais.

A atividade faz parte da quinta edição do Programa de Reintrodução de Peixes-bois da Amazônia, coordenado pela pesquisadora Vera Silva, líder do LMA/Inpa. Conta com o apoio do Projeto Museu na Floresta, uma pareceria do Inpa com a Universidade de Kyoto, no Japão.

“Como os animais foram criados em tanques de fibras e alimentados artificialmente, este estágio de semicativeiro permitirá que os animais se familiarizem com o ambiente natural e busquem seu próprio alimento”, explica Silva. “E dessa forma, terão uma ideia do que vão encontrar na natureza quando forem soltos definitivamente”, acrescenta a pesquisadora.

O responsável pelo Programa de Reintrodução de Peixes-bois da Amazônia, o biólogo e mestre em Biologia de Água Doce e Pesca Interior pelo Inpa, Diogo Souza, explica que a etapa de semicativeiro favorece a readaptação à natureza dos animais, já que o lago oferece as condições naturais dos rios da Amazônia.

“O lago é paralelo ao rio Solimões e sofre influência desse rio”, explica. “Por mais que seja um lago de piscicultura, fechado, as águas do rio se conectam com o lago trazendo um aporte de nutrientes com o aumento de ofertas de plantas”, acrescenta Souza.

Com a translocação dos 12 animais para o semicativeiro, o número de peixes-bois que estão em processo de readaptação à natureza sobe de 10 para 22.

O lago está situado na Fazenda Seringal 25 de Dezembro, na altura do quilômetro 74, na área rural de Manacapuru, no ramal do Lago do Calado. No local, os peixes-bois têm a oportunidade, ainda, de entrar em contato com outras espécies de peixes, quelônios e plantas e explorar a lama do lago à procura de alimento.

 Readaptação

O Inpa recebe de oito a dez filhotes resgatados por ano e tem um plantel atual de 64 animais, a maioria com potencial de ser devolvido para a natureza. “O sucesso do projeto permitiu que mais animais sejam levados para o semicativeiro. E com os resultados positivos obtidos nos últimos dois anos, nada mais justo acelerar o processo”, comemora Diogo Souza.

O projeto de reintrodução dos animais teve um grande sucesso após a inclusão dessa fase intermediária do semicativeiro. Agora, o processo que inicia com o resgate, passa pela reabilitação, chega à fase do semicativeiro até a soltura definitiva do animal na natureza.

Até o momento, foram realizadas seis translocações de peixe-boi do Inpa para o semicativeiro.  Anteriormente, a cada ano, eram levados de três a cinco animais.

“Este ano resolvemos aumentar este número de indivíduos translocados porque as informações científicas dão conta que as etapas têm tido sucesso”, diz Souza. “Tanto é que os animais na etapa de semicativeiro têm aumentado de tamanho e crescido de comprimento, assim como também na readaptação deles na natureza, por isso essa necessidade de acelerar as etapas para que mais animais sejam devolvidos à natureza”, destaca.

Souza explica que, pelo Protocolo de Reintrodução, os animais com mais de 15 anos não são aptos para voltarem à natureza, ao contrário dos indivíduos jovens que têm mais chance de terem sucesso de readaptação  por terem passado menos tempo no cativeiro.

 Reintrodução

Desde 2008 até agora já foram devolvidos para a natureza 12 animais. No início, as reintroduções eram feitas diretamente do cativeiro para o ambiente natural, mas os resultados não foram satisfatórios, pois os animais tiveram dificuldades de se readaptarem à natureza.

Em 2011, a nova etapa de semicativeiro foi adotada com a escolha de um lago de piscicultura de 13 hectares de extensão (equivalente à área do Bosque da Ciência do Inpa, em Manaus/AM) e profundidade média de 2 metros, considerados ideais para a readaptação dos animais ao ambiente natural.

Os animais que vivem no cativeiro em média oito anos são selecionados para a etapa de translocação para o semicativeiro, onde permanecem de um a três anos. Lá, são acompanhados semanalmente pela equipe do LMA que avalia o processo de readaptação e as condições dos animais. Os mais aptos são fortes candidatos para serem devolvidos à natureza.

 Soltura

As solturas, nos últimos dois anos, foram feitas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus, no baixo rio Purus, no município de Beruri (a 173 quilômetros de Manaus), e  os nove peixes-bois reintroduzidos tiveram sucesso. A próxima soltura (a terceira edição) está prevista para o início de 2018.

“Soltamos quatro animais em 2016 e mais cinco neste ano de 2017 e todos têm sobrevivido e se adaptado ao ambiente natural, explorando os habitat específicos para peixe-boi. O principal é que conseguiram passar um pulso de inundação completa e isto é um indicador muito forte para se adaptar à natureza”, diz o responsável pela reintrodução.

Ele conta que os peixes-bois que foram soltos no ano passado completaram 550 dias de reintrodução na natureza e os que foram soltos esse ano já faz 120 dias, e são acompanhados diariamente por ex-caçadores, comunitários da reserva, e o resultado tem sido excepcional.

 Plantel permanente

De 15 a 20 animais serão mantidos no plantel permanente do Inpa, formado por aqueles que nasceram no cativeiro, os que têm mais de 20 anos de idade, além dos que apresentam alguma deficiência motora por causa do ferimento de arpão na nadadeira.

Os animais foram vítimas da caça ilegal. “Os animais mantidos no cativeiro são uma alternativa para se fazer pesquisa e conhecer um pouco mais sobre a biologia dessa espécie ameaçada e endêmica da Amazônia”, diz Souza.

Pioneira

O animal mais antigo mantido em cativeiro no Inpa é a “Boo”, uma peixe-boi fêmea resgatada em 1974, ainda filhote, e que ao longo desses anos já deu à luz a três filhotes no cativeiro. Hoje, com 43 anos de idade é considerada a “mãezona” por ter adotado outros peixes-bois.

“É um animal com potencial para estudos de longevidade e reprodução desse grupo”, destaca o biólogo. A média de idade de um peixe-boi na natureza é em torno de 55 a 60 anos.

Amazonianarede-Asxom/INPA

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